Uma das principais pesquisas sobre o panorama e as tendências do setor de treinamento no Brasil, “O Retrato do Treinamento no Brasil – 2013/2014”, revela que para 80% das empresas participantes os programas de desenvolvimento de líderes terão a prioridade dos investimentos em treinamento e desenvolvimento, numa perspectiva de crescimento de 9% do valor médio investido anualmente em capacitação profissional para o período de 2013/2014. Fortalecendo o grau de preocupação e interesse das organizações no desenvolvimento de técnicas, habilidades e práticas de liderança, a pesquisa distingue ainda como principais demandas dos programas de treinamento as temáticas relacionadas a modelos e estilos de liderança (81%) e à
comunicação e feedback (58%). Mesmo que o investimento na capacitação dos líderes não seja novidade como parte da estratégia de competitividade das empresas — em face do ambiente complexo e mutável em que operam, e diante da necessidade de construir valor e criar diferencial perceptivo para o cliente —, o desafio aponta para mudanças significativas no foco da gestão e no estilo de liderar e conduzir pessoas. Refletindo sobre a questão, a tríade mercado (cliente) + trabalhadores (pessoas) + desempenho (resultados), sempre foi para as organizações o centro de suas preocupações. O que muda no cenário atual é a significação e a dimensão desses pontos centrais, com vistas à sustentação da vantagem competitiva do negócio:
•
O PODER DO CLIENTE,
da relação de troca
para a dimensão da fidelização. •
O VALOR DAS PESSOAS, de recurso produtivo para a dimensão do diferencial competitivo. •
O FOCO EM
RESULTADO, da execução da tarefa para a dimensão de fazer mais com menos.
O gerenciamento eficiente da rotina de trabalho é condição básica de sustentação, mas não é mais suficiente para responder a essas dimensões.
Os fatores de diferenciação envolvem hoje: • A clara definição das estratégias comerciais e de mercado para garantir a fidelização dos clientes • A concepção sistêmica da gráfica para operar gerando valor em toda a cadeia produtiva • A consolidação da cultura da inovação e da alta performance para assegurar os resultados da organização e a sua vantagem competitiva • A identificação e a retenção dos talentos humanos como forma de gerar valor, inovar continuamente e transformar a gráfica num modelo rentável de negócio. É, portanto, decisivo para a liderança ativa, a prática de uma gestão estratégica que redirecione os focos determinantes dos modelos mecanicistas, centrados na tarefa, na produção e na mera eficiência operacional. Líderes que atuam no modelo ativo fazem da sinergia organizacional uma de suas principais diretrizes estratégicas, decidindo para melhorar processos, agindo para eliminar fronteiras setoriais e liderando para alcançar a eficácia no desempenho global da gráfica. Consolidar essa capacidade coletiva de alinhar objetivos, ações e resultados, requer, além da gestão estratégica, a prática de um modelo de liderança de nível superior, capaz de valorizar as pessoas e conduzir equipes de forma participativa, ao mesmo tempo em que lidera com foco em resultados, forte viés para a ação e elevada vontade de realização. Para tanto, vale refletir acerca das metas que, como indicadores de performance,
funcionam também como medida de sucesso. Metas exercem pressão, mas defini-las de forma desafiadora e compartilhá-las com a equipe constituem não só o objetivo da gestão como o coração da motivação. Nada é tão determinante para a motivação humana como o ato de superar desafios para alcançar metas e atingir objetivos, obtendo sucesso profissional e realização pessoal. Cabe ainda considerar que esse viés motivacional somente se concretiza se o alcance das metas operacionais produzir os resultados esperados pela gráfica, o que exige decisões e ações concretas
sobre os ofensores da produtividade, • Eliminando o desperdício de recursos, tempo ou esforço; • Minimizando o retrabalho proveniente da falta de direcionamento, capacitação, comunicação, foco ou comprometimento. A liderança ativa requer, assim, o pensamento disciplinado dos líderes gráficos, para encarar os problemas como oportunidades e lidar com eles de forma proativa, buscando soluções, melhorias e inovações. A proposta do líder de nível superior não é a de criar “super-homens”, e tampouco as práticas da liderança ativa sugerem relacionamentos perfeitos. O que se busca é a sustentação de um modelo de excelência baseado na liderança pelo exemplo, que alinha e integra os objetivos da empresa com os dos colaboradores, e que tem como fundamentos a construção de relações de parceria e o exercício compartilhado do poder como forma de: • Gerar novas ideias e soluções • Compromissar com os resultados • Construir equipes de alta performance, capazes de produzir mais com menos e de realizar para agregar valor. Neste ponto o desafio está na compreensão da gestão do desempenho como o objetivo central da liderança ativa, para compor um time de pessoas disciplinadas que desempenham com foco na produtividade e dão o melhor de si na busca de performances superiores. Não se trata de magia ou milagre, mas sim da prática de um modelo de gestão do capital humano que coloca a pessoa certa no lugar certo. “Quem estou contratando, promovendo ou mobilizando” é a questão que define a pessoa certa, visto que focaliza o perfil pessoal do profissional, buscando compreender sua cultura, seus valores e os traços mais marcantes de sua conduta. “O quê estou contratando, promovendo ou mobilizando” é a questão que avalia a competência profissional e define o lugar certo para o colaborador, dado que compatibiliza seu perfil profissional com os requisitos e desafios dos cargos. Na construção dessas equipes de pessoas disciplinadas, o diferencial está em entender a competência não como a “bagagem” que cada profissional traz para o trabalho, mas como o que ele pode e quer entregar como resultante da articulação de seu CHA, ou estoque de Conhecimentos, Habilidades
e Atitudes que detém. Assim, nessa questão, a prática da liderança ativa amplia o “emprego do trabalho” para a “disponibilização do talento”, a relação “esforço/dedicação” para “competência/solução” e o vetor “eficiência/execução” para “ideias/inovação”, resultando em
desempenhos de maior valor agregado. Em geral, para liderar de forma ativa focalizando resultados, gestores e líderes gráficos precisam considerar em suas decisões e sintetizar em suas ações as seguintes práticas: • Assunção do seu papel de referência, exercendo o autoconhecimento e a autoliderança como os pilares de sua conduta • Compromisso com a missão de conduzir colaboradores ao sucesso, construindo resultados com a equipe e atuando como facilitador para a concretização das metas • Direcionamento para resultados desafiando o status quo com metas audaciosas, padrões elevados e alto desempenho, avaliando e medindo o desempenho por meio de indicadores e métricas simples e consistentes • Firmeza e constância para executar o que foi compromissado • Gerenciamento da rotina para a eficiência operacional, a melhoria contínua e a inovação em processos e métodos de trabalho • Estilo de liderança assertivo e participativo, que indica a direção, compartilha metas, padrões e informações, capacita, orienta e mobiliza para o desempenho superior, acompanha a execução, avalia e pratica o feedback produtivo capaz de reconhecer e valorizar bons desempenhos, e de corrigir e desafiar para a alta performance • Visão sistêmica do negócio para gerir a gráfica e o dia a dia da operação com foco estratégico, priorizando a agregação de valor na cadeia produtiva e a eficácia no desempenho organizacional. Fica para as lideranças gráficas a motivação para modificar seus estilos e modelos de gestão — liderando com visão, com pessoas e com resultados
superiores — como forma de:
• Fortalecer a dinâmica interativa e relacional das interfaces profissionais e operacionais • Consolidar a gestão estratégica, desenvolvendo a cultura da inovação • Gerar resultados que transcendem
as limitações individuais, diferenciam
sua gráfica das demais e asseguram
a vantagem competitiva do negócio.
Do contrário, resta a opção da luta pela sobrevivência diária num mercado em contínua transformação, onde o verdadeiro diferencial está na prática de uma liderança ativa capaz de captar, desenvolver
e reter o talento humano.
Cristina Simões é diretora de desenvolvimento da ID Consulting e professora de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia Gráfica.
Artigo publicado na edição nº 88
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